quarta-feira, 4 de julho de 2007

CRITICA A REVOLTA. DIGESTIVO CULTURAL

As Revoluções e a latinidade - Por: Guilherme Conte Atriz Amália Pereira - Personagem Malva - A REVOLTA- 2007- FOTO: Julio Cesar Landim

O historiador Eric Hobsbawn tem uma linha de pensamento que pode ser sintetizada na máxima de que a história é feita de permanências e rupturas. Estas se caracterizam por transformações radicais e violentas que subvertem a ordem vigente e estabelecem um novo status quo. Revoluções exigem sangue e sacrifícios. É difícil operar as transformações para o estabelecimento de uma nova ordem. Esta, por sua vez, carrega dentro de si uma lógica que só é passível de ser derrubada por uma nova revolução. É essa condição de falibilidade intrínseca mantém a tensão entre os atores do jogo histórico.
A Revolta, do argentino Santiago Serrano, fala sobre revoluções. As grandes e as pequenas, as universais e as particulares. Situada em um ambiente rural sem tempo época definido, traz uma revolução social como pano de fundo para o palco das pequenas revoluções – as cotidianas, mundanas, que perfazem o nosso dia a dia.
Malva (Amália Pereira) é uma matriarca que se vê as voltas com uma ausência dolorosa em sua casa: um de seus filhos foi preso pelos opressores da sociedade local, por “suas idéias”. Sua voluptuosa nora Judith (Maritta Cury), a “gringa”, sofre com a carência e a falta do marido, além de estar em um país distante. Ela se envolve perigosamente com Martin (Antonio Ranieri), o outro filho de Malva, que trabalha para os mesmos senhores que prenderam o irmão. Nesse tenso ambiente ainda transita Sara (Janette Santiago), a escrava da família. A iminência da revolta e da volta do filho aprofunda os conflitos entre as personagens e manda às favas o tênue equilíbrio que sustentava a casa. O resultado é violência, tanto física quanto verbal.
O texto de Serrano acaba funcionando como uma grande reflexão da própria evolução da história da América Latina. Ali estão os estrangeiros que vêm para explorar a terra e seus recursos, o estrangeiro que pensa a revolução com um olhar externo, o povo oprimido, o opressor, os que pensam a revolução como um bem geral, os que vêem nela benefícios individuais... Malva, incapaz de ver o que acontece em sua volta, projeta no filho preso e em sua revolução seu obstinado desejo de vingança. Seus diálogos com a vizinha Antonia (Adriana Cubas), seu contraponto ideológico, evidenciam o choque entre as razões pessoais e o pensamento em um bem maior, que beneficie a todos de alguma forma.
A direção de Reginaldo Nascimento acerta em optar por uma construção cênica que prioriza o texto e o trabalho de ator. Os elementos cenográficos são os minimamente necessários para que a trama se desenvolva com os diálogos e as ações sem se sobreporem. É notável também seu talento para a criação de imagens marcantes. É possível apreender da montagem um sólido trabalho de construção de interpretações, uma das preocupações fundamentais da Teatro Kaus Cia. Experimental. Todos estão muito seguros de suas personagens e intenções. O que pesa contra o jovem elenco é talvez certo excesso de rigidez. As interpretações resultam, no geral, um tanto quanto duras, marcadas. Isso fica evidente, por exemplo, no modo de falar de Amália: talvez por pretenso virtuosismo, talvez por excesso de esmero, sua Malva soe barroca demais, o que compromete a própria compreensão plena do texto e de todas as suas nuances verbais. Um tom abaixo na partitura pode fazer com que o personagem ganhe em naturalidade. São falhas que tendem a se atenuar e até desaparecer ao longo do amadurecimento do espetáculo em temporada.
A troca com o público é valiosa quando se tem um grupo aberto e interessado no aprimoramento de uma linguagem, o que parece ser o caso do Kaus. É de se destacar, aliás, a iniciativa do grupo de construir um trabalho ancorado em uma séria e constante pesquisa de dramaturgia. A Revolta é um dos filhos do projeto “Fronteiras – O Teatro na América Latina”, que também englobou as montagens de Infiéis, do chileno Marco Antonio de La Parra, e de El Chingo, do venezuelano Edílio Peña. Ficam os votos de que a peça entre em temporada na cidade e a curiosidade a respeito dos caminhos a serem tomados pela companhia.

Guilherme Conte São Paulo, 23/3/2007
SEM FRONTEIRAS
Por: Santiago Serrano Dramaturgo Argentino

A Revolta - Foto:Gilmar Dueñas
Eu tive a fortuna de assistir durante o Ciclo de Debates sobre o teatro na América Latina a ensaios abertos das três peças que formam parte do repertório que Teatro Kaus apresenta em seu projeto “Fronteiras” Sendo autor de uma das peças não e minha intenção falar de a qualidade de meu próprio texto o de os de meus colegas Peña e De la Parra mas não posso deixar de reflexionar sobre o trabalho do grupo que encenou com muito profissionalismo três propostas diferentes provenientes de Chile, Venezuela e Argentina.
Infiéis Com texto de Antônio De la Parra apresenta um maravilhoso jogo cênico onde o tempo e o espaço perdem a sua lógica e cada um dos quatro protagonistas desnudam seus mais íntimos desejos. Só quatro atores em um pequeno espaço cheio de camas bastaram como elementos para mostrar o amor e a traição, a vida e a morte. Sim vítimas nem verdugos o diretor fez que os atores com grande virtuosismo expunham as complexas arestas de suas personagens.
Maritta Cury transita de uma sensualidade quase agressiva a uma infinita fragilidade. Robson Raga pode ser um homem com coragem para chutar o tabuleiro da sua vida em procura da felicidade e também um covarde que sempre é infiel a sim mesmo. Amália Pereira é a fiel e sensata esposa que deslumbra com seus desejos reprimidos. Angelo Coimbra como o homem inexpugnável deixa todo o tempo a vista um pouco de sua impotência.Uma encenação precisa e muito rigorosa de Reginaldo Nascimento que faz próprio um texto aparentemente estrangeiro.
El Chingo A peça de Edilio Peña é a mostra da procura impossível do homem por seu desejo. Dois solitários que caminham pela vida tentando realizar suas mais profundas fantasias se encontram e começa entre eles uma relação que pode salvá-los o perdê-los. Robson Raga põe todo seu histrionismo ao serviço de sua personagem e alcança a corporizá-lo Djalma de Lima desde a contenção das emoções chega ao inesperado final com grande intensidade. Os dois deixam cair suas máscaras mas sempre por debaixo tem outras que fazem mais ricos e complexos as personagens. Reginaldo Nascimento desde a direção cria um mecanismo simples, mas muito eficiente, que faz transitar ao espectador do riso até o estupor.
A Revolta Minha peça foi definida por um crítico como uma tragédia moderna. Eu coincido com esse conceito. É uma peça épica que por a intensidade dos sentimentos que transita e por sua linguagem quase poético a fazem muito difícil para sua encenação. Eu assisti a um ensaio aberto e ao estréio no Centro Cultural São Paulo e para mim foi uma experiência que me fez enriquecer. Eu pude ver o trabalho minucioso que o diretor fez com o texto e os atores. Cada palavra que eles dizem no palco esta profundamente compreendida e sentida. A cenografia e o movimento dos atores são de grande beleza estética mas nunca fazem perder de vista a atenção do texto e da história.
Reginaldo Nascimento pôs todo seu talento em serviço da peça. Amália Pereira é a Malva eixo da tragédia e impacta pela sua densidade dramática. Ela é em corpo e alma a velha que de sua poltrona dirige os destinos de aqueles que a rodeiam.Janete Santiago transmite com calidez e emoção o crescimento da Sara de menina a mulher. Antonio Ranieri e Maritta Cury debatem-se com grande intensidade entre as contradições de Martin e Judith e juntos fazem cenas de muita sensualidad e violência. Finalmente a Antonia que a flor da pele compõe Adriana Cubas deslumbra pela sua entrega emocional. Diretor e atores ao serviço de contar uma historia de lutas e traições que nasceu em Argentina mas que eles fazem universal.

Teatro Kaus
Risco, rigorosidade e profissionalismo são palavras que podem definir a este grupo que um dia sonhou com pesquisar nas dramaturgias do resto da América Latina e que tiveram a coragem de fazê-lo com respeito e dedicação. Eles com seu projeto “Fronteiras” nos demonstram que em teatro as fronteiras não existem e que a aproximação com diferentes línguas e culturas nos faz enriquecer a todos. Quando os outros falam de sim mesmos sempre falam de nós. Santiago Serrano Buenos Aires, 9 de março de 2007
O PERFIL DO TEATRO KAUS
Edilio Peña Dramaturgo Venezoelano
Robson Raga e Djalma de Lima - EL CHINGO - Foto: Julio Cesar Landim
A companhia teatral Kaus, nos ofereceu três notáveis espetáculos teatrais este ano: Infiéis, A Revolta e El Chingo, onde esta exposto uma concepção de madura teatralidade que podemos encontrar nas sutis encenações de seu diretor Reginaldo Nascimento. Em cada uma delas, encontramos um olhar que recria as histórias escritas, uma visualização particular para abordar estas três peças, de estilos e composições dramatúrgicas diferentes, as duas primeiras mais próximas ao naturalismo e a terçeira ao absurdo, desde a perspectiva de uma assunção estética clara e definida, mas sobre tudo, nova. Reginaldo Nascimento é um criador de universos cênicos pessoais.
Na montagem das peças de autores latino-americanos, Santiago Serrano (A Revolta), Marco Antônio de la Parra (Infiéis), e Edilio Peña (El Chingo), Reginaldo Nascimento aproximou-se da interpretação destas peças mediante a desconstrução do espaço e o tempo onde ficam contextualizadas as histórias das mesmas. A dizer, as três peças sugerem um espaço particular de acontecimento, mas o diretor preferiu apagar o espaço referencial proposto pelos autores, e ir a um espaço quântico onde só sobreviveram alguns referentes que lembraram os propostos pelos escritores.
Assim, estas montagens de Reginaldo Nascimento, incitaram também um tempo sem tempo, onde as personagens das peças pareciam emergir da obscuridade e do nada, para alojar-se, como passageiras de uma poética feliz, ante o olhar curioso dos espectadores. Do mesmo modo, os sentimentos das personagens foram concentrados na interpretação acertada dos atores, e não na procura de uma espetacularidade fácil, fora da interioridade, que incapacitara o ator, como intérprete e visualizador também, das peças representadas.
Assim, a intensidade dramática de uma peça como Infiéis, foi vista desde a cor branco, objetivo, sereno, para procurar compreender em sua justa medida, o desgarramento de umas personagens infiéis a sua própria história coletiva e pessoal. A disposição cênica de A Revolta, também, nos permitiu compreender a ausência do herói (filho, irmão e esposo), por méio de um fundo vazio que expressava a irresolução afetiva de todas as personagens, em particular, o da mãe devoradora, cheia de raiva e ressentimento.
Em El Chingo, a penumbra neblinada é a plataforma onde um personagem traumatizado como El Chingo, convocava a luz de um ausente idealizado como sua suposta mãe: Vivian Leigh. Em fim, cada uma das encenações, foram conformadas com pontualidade, contundência e deslumbramento cênico. Também , devo reconhecer, como um importante asserto o Encontro entre dramaturgos e diretores latino-americanos, que aconteceu no Instituto Cervantes, e também foi organizado pela companhia teatral Kaus, e possibilitou dialogar e debater em torno das propostas e características dramatúrgicas e cênicas, da nossa cena latino-americana.
Um Encontro que permitiu nos conhecer mais e definir nosso perfil particular,. Pela impecável organização deste evento por parte da companhia teatral Kaus, criaram-se as condições para que os teatristas latino-americanos se encontrem para vencer, assim, o desconhecimento e a ignorância que as vezes fica em nosso território. Acho que a companhia teatral Kaus, tem muito de seu nome, mas com a premissa e o fim de reordenar o caos, para procura neste, sua verdadeira essência criadora e vital.
Edilio Peña
Teatro Kaus lleva a escena La Revuelta de Santiago Serrano
Por: Pablo García-Gámez http://www.teatromundial.com/,

A Revolta - Foto: Julio Cesar Lnadim
New York: La revuelta (A Revolta), del dramaturgo argentino Santiago Serrano estuvo en cartelera entre el 17 de febrero y el 18 de marzo de este año en Sala Jardel Filho del Centro Cultural São Paulo, Brasil, bajo la dirección de Reginaldo Nascimento. El montaje forma del proyecto Fronteiras, El teatro en América Latina.Escrita en 1984 y estrenada en el Teatro El Vitral de Buenos Aires, la producción brasilera corre a cargo de Teatro Kaus Cia. Experimental. La pieza se desarrolla en un ámbito rural y atemporal.
En ella se muestra la angustia de un pueblo que desafía a la elite para reconquistar derechos como ciudadanos y retomar las propiedades arrebatadas por los poderosos. La Revuelta muestra cómo el poder seduce y corrompe; para algunos, la posibilidad de ser terrateniente borra cualquier valor ético por lo que no les importa traicionar comunidades enteras. El sistema feudal de repartición de tierras heredado de la colonia continúa; al final, sólo han cambiado los nombres de los terratenientes.
La complejidad de esas relaciones se refleja en la casa de Malva, anciana que tiene dos hijos: el revolucionario y Martín, que sirve a los latifundistas. Malva quiere que ocurra una revuelta social no importándole quién caiga mientras que su amiga Antonia tiene una visión más participativa: hay que hacer la revuelta, pero aclarando a todos por qué se hace, qué hay que exigir y asignando responsabilidades. Sara la joven sirvienta sabe que las cosas no son justas, que deben cambiar, pero no sabe a ciencia cierta por qué. Al final, su acto de valentía es traicionado.
Paco Llistó, entrevistó a Reginaldo Nascimento para el portal Aplauso Brasil. Allí el director comenta que “El período de las dictaduras permitió el surgimiento de una dramaturgia fuerte y visceral, de cuestionamiento y con preocupaciones sociales y humanas (…) ‘La Revuelta’ es un texto denso, que en su estructura evoca la obra del español Federico García Lorca (…) la pieza analiza la cuestión humana, mostrando el dolor de un pueblo que vive en lucha, creando revoluciones para hacer valer derechos y propiedades adquiridas a lo largo de la vida y expropiadas por los que detentan el capital y el poder político”.
“En ‘La Revuelta’, prosigue Nascimento, los brasileros están presentes en el dolor, en la angustia y en la falta de respeto a una vida entera de trabajo que se pierde ante el poder armado y el capital especulativo. Todos somos de América Latina y sufrimos una misma angustia: todavía estamos en el Tercer Mundo y tenemos que probar todo el tiempo que somos capaces de producir con dignidad y vender nuestro producto que tiene tanto valor como cualquier enlatado americano”.
El texto de Santiago Serrano es traducido por Airton Dantas; la dirección es de Reginaldo Nascimento El elenco está integrado por Amália Pereira, Maritta Cury, Janette Santiago, Adriana Cubas y Antonio RanieriLa propuesta de Teatro Kaus es investigar la escena latino-americana. El proyecto Fronteiras contempla el montaje de Infieles, de Marco Antonio de la Parra y El Chingo de Edilio Peña, además de un ciclo de lecturas dramatizadas de textos de otros autores latinoamericanos y el lanzamiento de Cuadernos de Teatro do Kaus - El Teatro en América Latina, registro documental del proceso de investigación que llevan a cabo.
Pablo García-Gámez http://www.teatromundial.com/

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